Desafios da Nova Era: Inclusão Digital

Você já se perguntou quais são os principais desafios da Nova Era, muitas vezes conhecida como Era da Internet? Seria a inclusão digital? Seria a convergência digital? Ou seria o desenvolvimento sustentável?

Os três assuntos supracitados já foram aqui comentados em outros momentos,  quando discutimos sobre a importância de cada um dos mesmos e os impactos causados em nossa sociedade. Desta vez, decidi revisá-los sob a ótica como deveriam ser analisados – como um desafio a ser vencido, transposto.

Estamos começando então uma nova série de artigos aqui no blog, os Desafios da Nova Era,  onde nós estaremos escolhendo a cada artigo um assunto e estudando o mesmo segundo os problemas que apresenta em seu desenvolvimento.

Mas… qual seria o maior desafio?

Em nosso primeiro artigo, queria abordar aquele com maior impacto direto, ficando em dúvida entre inclusão digital e desenvolvimento sustentável, dois temas bastante polêmicos no momento. Optei por começar pela inclusão digital, por julgar ser um tema mais próximo de nosso cotidiano, afetando assim muitos de nós diretamente.

Inclusão digital – um problema velho ainda sem solução

Aos que não se lembram, este não é um assunto novo por aqui – pelo contrário, falamos sobre isto há mais de um ano, no artigo chamado Inclusão Digital: um problema de todos!

Naquele momento, nós já começávamos a falar aqui, no recém-criado Giga Mundo, sobre o impacto que a falta de uma política séria de inclusão digital causa em nossa sociedade.

Desta vez, para que mais claro fique o papel da inclusão digital, começarei definindo exclusão digital:

Diz-se do “distanciamento”, ou seja, a distinção causada entre pessoas pertencentes ou não a uma mesma comunidade a respeito dos benefícios que cada uma das mesmas possui devido ao bom emprego da tecnologia em suas vidas. Em outras palavras, quanto maior o número de oportunidades e benefícios que uma pessoa pode perder pelo fato de não saber lidar com determinada tecnologia e informação, maior será a exclusão digital da mesma naquela comunidade.

Ou seja, quanto mais oportunidades você perde por não ter contato com tecnologias como computadores, Internet e celulares (se é que há alguém que não possua celular!), maior será a exclusão digital.

Considero essencialmente importante a definição de exclusão digital para que possamos entender o que a inclusão digital deverá resolver. A inclusão digital trata-se de um conjunto de esforços, individual ou coletivamente, que busca reduzir as diferenças de informações e possibilidades de acesso à tecnologia como forma de reduzir as disparidades entre as diversas classes ou grupos sociais. Ou seja, esperamos que por meio da inclusão digital os problemas causados pela exclusão digital desapareçam!

Sendo assim, em minha opinião, toda forma de inclusão digital que não proporciona realmente a criação de novos benefícios, a possibilidade de detectar e aproveitar novas oportunidades, é uma forma inócua de ação!

Então os tais “cursos de inclusão digital” que vemos promovidos, onde alunos simplesmente fazer durante um ou dois meses o que antes era conhecido como “informática básica” jamais poderia ser considerada uma inclusão digital, no máximo um primeiro passo de uma sequência gradual que o indivíduo deveria receber para que alcançasse o nível de utilizar-se de forma eficiente da própria informação e da tecnologia a fim de tirar o melhor proveito.

Os passos para uma verdadeira inclusão digital

Para que desenvolvamos um verdadeiro e amplo programa digital, algumas coisas devem ser conseguidas:

  • Oferecer livre acesso à tecnologia por meio do emprego de telecentros (centros desenvolvidos para que qualquer pessoa possa utilizar um computador com acesso à Internet e os recursos ali disponíveis) e melhores e maiores laboratórios de informática nas escolas, adequados realmente ao número de alunos que necessitam de tais recursos (um laboratório com 15 ou 20 computadores para uma escola com 5000 ou 8000 alunos é ridículo!);
  • Uma reforma quanto à finalidade e programas de educação em informática a alunos das escolas bem como em cursos oferecidos em telecentros – é fácil ensinar a usar Word e Excel, mas será que isso realmente basta? Por que não ensinar-lhes como procurar a informação que possam necessitar de forma adequada? Por que não ensinar-lhes como utilizar a informação alcançada? Por que não ensinar as oportunidades que podem ser exploradas e que estão ali, somente esperando para serem “desbravadas”?
  • Oferecer bolsas em programas onde o aluno pode aprender mais sobre como tirar melhor proveito da Internet como meio de educação e ambiente de oportunidades. Você já percebeu que a maioria dos programas com bolsas remuneradas geralmente buscam formar mais “mão-de-obra operária”, com cursos profissionalizantes que desenvolvem potenciais “empregados de chão-de-fábrica”? Por que não oferecer oportunidades para que o jovem descubra como é possível criar suas próprias oportunidades aqui, na “terra das oportunidades virtual”, como costumo chamar?

Resumindo: faça com que todos possam acessar a tecnologia e ensine-lhes e motive-os de fato a aprenderem sobre ela, a descobriros reais benefícios, e teremos então resolvido o problema da inclusão digital.

Infelizmente, ainda hoje todos contornam o problema da exclusão digital fingindo que o mesmo não existe. Quero explicitar isso falando sobre algo que eu vi hoje…

Educação e inclusão? Não! Mais uma máquina de estampar!

Estava hoje a assistir televisão quando vi em um programa qualquer um quadro qualquer onde uma família qualquer falava sobre seus problemas financeiros: o marido sofrera um acidente e era, agora, incapaz de exercer a antiga função, cabendo agora a mulher a difícil tarefa de buscar um meio de complementar a pensão que o mesmo recebia para manter os dois e seus filhos.

Desesperada e sem encontrar uma solução, buscou a ajuda daquele programa, que prontamente a ajudou: ela ganhou uma máquina de estampar camisas e outros objetos!

Quando vi aquilo, lembrei-me que desde jovem, quando assistia o antigo “Porta da Esperança”, era comum tais tipos de programas doarem uma “máquina de estampar” como forma de resolver todos os problemas daquelas famílias. Entretanto, se você analisar melhor a situação, a máquina de estampar não é realmente a melhor solução!

Em todos os casos é a falta de informação, de  conhecer as oportunidades, que acaba por limitar os recursos daquelas pessoas. A máquina de estampar é, no máximo, uma forma de dizer “toma, agora você pode conseguir algum dinheiro, agora sai da minha frente, desapareça!” em vez de escolher outras opções mais custosas, porém, com melhor efeito:

  • Claramente há uma falha na educação, o que dificulta o aproveitamento de outras oportunidades – então ofereça-lhes bolsas de estudos para que possam realmente aprender algo que possam empregar!
  • Faltam os meios para aproveitar melhor, talvez um computador, talvez acesso a livros, talvez visitas a empresas que possam oferecer-lhes oportunidades reais.

É claro, “despachar a máquina e mandar embora” é uma excelente e prática forma de conquistar a audiência, dizer que fez algo e passar para a próxima atração. Engraçado que eles nunca voltam a mostrar aquela mesma família um ou dois anos mais tarde para que saibamos o que aconteceu com elas!

Tenha certeza de que, em mais da metade delas, a máquina de estampar não existe mais – foi vendida para conseguir alguma verba para se sustentar enquanto procurava alguma outra solução.

Máquinas de estampar são fáceis de dar e vendem propagandas (que garantem o retorno financeiro do quadro), mas não resolvem os problemas de nossa população. Até porque, se cada um tiver uma máquina de estampar, para quem venderemos nossas estampas?

Reformas na educação e inclusão digital… Isso me soa muito melhor, mas mesmo após mais de um ano em relação a quando falamos sobre o assunto aqui pela primeira vez, este ainda é um desafio da Nova Era muito grande e sem solução prática no momento.

Leave a Reply

Your email address will not be published. Required fields are marked *