Aspectos psicológicos da obesidade

Os profissionais da área de saúde são unânimes em afirmar que o problema da obesidade nos indivíduos é uma questão tanto psicológica quanto física. Os aspectos psicológicos da obesidade são tão importantes que as avaliações e intervenções psicológicas se tornaram uma parte integrante de uma abordagem multidisciplinar para o tratamento desse problema que acomete centenas de pessoas no mundo inteiro.

Psicologia e obesidade

A causa dos transtornos alimentares e da obesidade é geralmente uma combinação de aspectos psicossociais, ambientais e ou biológicos. As pessoas que sofrem de distúrbios psicológicos podem ter mais dificuldade em controlar a ingestão de alimentos para manter um peso saudável.

O alimento é muitas vezes usado como um mecanismo de enfrentamento ou defesa por indivíduos com problemas de peso, principalmente quando estão infelizes, ansiosos, estressados ou estão se sentindo solitários. Em muitas pessoas obesas, parece haver uma alteração constante do humor, e por isso elas comem demais para preencher o vazio emocional que existe nelas, acabando por ganhar excesso de peso.

Quando elas se sentem angustiadas, se voltam para a comida para ajuda-las a lidar com o sentimento de frustração e tristeza, e apesar de comer muito essa sensação de angústia pode ser atenuada temporariamente, porém o ganho de peso pode causar um comportamento anormal, devido à incapacidade de controlar a compulsão alimentar e estresse.

A culpa resultante dessa ação pode reativar todo o processo, levando a um padrão frequente de uso de alimentos para lidar com as emoções. Este padrão é aplicável quando não há uma predisposição genética no indivíduo para a obesidade ou quando há um ambiente no qual os alimentos calóricos estejam facilmente disponíveis e a atividade física seja limitada.

Sequelas psicológicas da obesidade

A sociedade de um amaneira geral, encara o problema da obesidade de forma muito negativa, tendendo a acreditar que os indivíduos que são obesos são desmotivados e sem “força de vontade” para controlar a compulsão alimentar.

As pessoas obesas estão na maioria das vezes cientes dessas opiniões negativas e tendem a internalizá-las, podendo desenvolver com esse comportamento transtornos de humor, como a ansiedade ou abuso de substâncias nocivas ao organismo. Elas percebem a discriminação dos outros para com elas e muitas vezes sofrem de baixa autoestima, e como resultado elas se sentem desconfortáveis com seu próprio corpo. Estes sentimentos podem levar a uma pressão emocional causando problemas em seus relacionamentos amorosos.

Os indivíduos obesos fazem normalmente várias tentativas para perderem peso, com pouco ou nenhum êxito. Como resultado, acabam se sentindo desanimados, frustrados, desmotivados e infelizes. Por esta razão, muitos indivíduos recorrem à cirurgia bariátrica como um último recurso para perder peso. No entanto em alguns casos mesmo com a perda de peso significativa, não há uma melhora de humor, da autoestima e da motivação para os relacionamentos.

Por isso é importante que o paciente seja acompanhado por um psicólogo para que ele perceba que o emagrecimento nem sempre é a solução para todos os seus tipos de problemas, mas sim um passo importante na melhora da saúde de uma forma geral.

Tratamentos psicológicos para a obesidade

A terapia comportamental ou cognitiva pode ser usada como parte de um programa de modificação do estilo de vida do indivíduo em conjunto com a dieta adequada e a prática de exercícios físicos regulares.

Para os pacientes que não estão dentro dos parâmetros da comunidade cientifica para fazer a cirurgia bariátrica ou os que não estão preparados psicologicamente para esse tipo de intervenção cirúrgica, há a opção da técnica do condicionamento clássico e operante que são dois modelos tradicionais muito usados na terapia comportamental, normalmente durante um período de seis meses.

De acordo com os especialistas dessa técnica os indivíduos que participaram desse estudo perderam em geral uma média de 10% de seu peso inicial. Atualmente, a terapia cognitiva e a terapia comportamental cognitiva tornaram-se técnicas psicológicas de extrema importância para o tratamento da obesidade. As cognições influenciam os sentimentos e comportamentos dos indivíduos, e não devem ser ignoradas no tratamento do problema da obesidade.

Essas técnicas psicológicas são utilizadas no tratamento da obesidade como uma maneira de auxiliar as pessoas a alterarem seus hábitos alimentares inadequados e incorporarem as mudanças de estilos de vida saudáveis. Estas intervenções incluem técnicas de monitoramento, gestão do estresse, controle de estímulos negativos, apoio social, resolução de problemas e reestruturação cognitiva.

Considerações finais

Tanto as questões psicológicas como as comportamentais desempenham importantes papéis no desenvolvimento e nas consequências da obesidade. Uma abordagem multidisciplinar para o tratamento da obesidade que aborde todos os aspectos como fator psicológico, social, ambiental e biológico, é fundamental para que a atenção integral possa ser restabelecida, bem como melhores práticas e resultados mais eficazes.

Não é só o papel de um psicólogo comportamental importante para o tratamento da obesidade com uma avaliação psicológica do indivíduo, como também após a cirurgia adaptar-se de modo adequado ao estilo de vida pós-operatório, se a pessoa optar pela cirurgia bariátrica, e os subsequentes comportamentos emocionais, comportamentais e sociais que decorrem frequentemente desses tipos de cirurgia.

A realização de perda de peso substancial devido à cirurgia bariátrica é significativamente relacionada com a habilidade de fazer mudanças permanentes no estilo de vida do individuo, que envolve a adesão não só a uma adequada ingestão nutricional e prática de exercícios físicos, mas um esforço para melhorar o estresse e os estados emocionais que contam com o recurso de não apelar para a comida como um mecanismo de enfrentamento dos problemas e nem como uma fuga deles.

Por Salete Dias