Você sabia que um em cada dez adultos sofre de insuficiência renal crônica? Este é um número muito alto, se comparado ao número de pessoas que tomam conhecimento de sua condição e procuram ajuda médica. Isto porque, muitas vezes, a doença não manifesta sintomas ou a pessoa não os percebe até que esteja em um estágio muito avançado, o que é realmente perigoso!
Nutrição em Foco já falou anteriormente de outro problema que afeta os rins, a nefrite, e hoje decidiu dedicar-se à discussão sobre este outro problema, tão grave e que poderia ser prevenido se adotada uma dieta alimentar adequada e alguns outros cuidados.
Vamos então? 😉
O que é insuficiência renal crônica?
Insuficiência renal (doença renal ou IRC, como também pode ser chamada) trata-se de uma lesão renal que leva os rins a funcionarem de forma inadequada.
Como sabemos, os rins são órgãos de nosso corpo muito importantes pois são responsáveis pela eliminação de toxinas e substâncias em concentração muito elevada em nosso corpo, mantendo assim o equilíbrio da concentração de sais minerais, vitaminas e líquidos. Participa também do controle da pressão sangüínea, bem como da formação de novos glóbulos vermelhos, células presentes em nosso sangue muito importantes para o transporte de oxigênio.
Imagine então como fica nosso organismo se este órgão começa a reduzir sua atividade ou mesmo parar. Nada bom, não é? É por isso que a insuficiência renal é um problema tão sério.
Há duas formas da doença: a aguda, que leva a uma parada súbita mas temporária das atividades renais, e a crônica, causada pela lesão renal de forma gradativa e irreversível. Ambos os problemas são bastante delicados, mas hoje vamos estudar como prevenir e tratar a insuficiência renal crônica.
A insuficiência renal crônica leva à degradação das atividades renais de forma quase imperceptível e, por isso, se não for logo diagnosticada e tratada, torna-se um dos problemas de saúde com grande índice de mortalidade atualmente. 🙁
Quais as causas ou fatores mais comuns?
Várias são as causas ou fatores que podem levar à insuficiência renal crônica, sendo as mais apontadas:
- Pessoas com problemas de saúde como diabetes, hipertensão arterial ou doenças cardiovasculares;
- Pessoas que já sofreram de anemia;
- Idosos;
- Existência de pessoas na família com problemas renais;
- Já ter apresentado (ou ainda apresentar) problemas renais como a nefrite (maior ainda o risco no caso de glomerulonefrite), obstrução das vias urinárias, cálculos renais (“pedras nos rins”), doença de Berger (nefropatia por IgA) ou alterações nos rins (como rim policístico).
Sintomas da insuficiência crônica
No estágio inicial da doença o indivíduo é assintomático, isto é, não demonstra nenhum sintoma que leve à hipótese de apresentar a IRC, o que acaba agravando o problema.
Se a pessoa não tomar ciência dos riscos a que está exposto e começar a se cuidar a fim de prevenir o desenvolvimento da doença, alguns sintomas (problemas causados pela alteração das funções renais) aparecerão posteriormente, como:
- Noctúria (necessidade de urinar várias vezes durante à noite);
- Fraqueza;
- Cansaço;
- Inchaço em rosto, pés ou pernas;
- Alterações na urina, como a presença de espuma, mudança em sua cor (passa a ser mais escura ou avermelhada) ou no volume (passa a ser maior ou menor);
- Dores na região lombar (onde encontram-se os rins);
- Dores quando urina.
Caso esse indivíduo não busque tratamento logo que comece a perceber tais sintomas, outros mais graves comeam a aparecer, apontando que a doença está evoluindo:
- Pressão alta;
- Desenvolvimento de problemas cardiovasculares;
- Anemia;
- Alteração nos ossos e nervos;
- Comprometimento do estado mental;
- Devido ao acúmulo de substâncias tóxicas (que não foram expelidas, já que as funções renais estão afetadas), o indivíduo pode apresentar perda de apetite, náusea, vômito e inflamação do revestimento da boca, podendo levar à desnutrição e perda de peso;
- Alterações na pele, como palidez ou “cor de palha” (devido à anemia), coceira e manchas roxas;
- Diabetes.
Em casos mais avançados (principalmente quando o problema é ignorado e não há acompanhamento médico), podem ocorrer:
- Falência renal;
- Acidente vascular cerebral (derrame cerebral ou AVC) ou insuficiência cardíaca devido à hipertensão arterial.
Bem, poderíamos tentar estender ainda mais esta lista de sintomas e conseqüências da IRC, mas acredito que ela já é longa suficiente para deixar-nos bastante preocupados quanto à nossa situação atual, não?
Auto-diagnosticando-se
O primeiro ponto importante na prevenção é saber qual o seu grau de risco de contrair a doença. Para isso, o ABC DA SAÚDE apresenta uma lista de itens que a pessoa pode analisar e compreender qual o seu grau de risco. A lista é a seguinte:
Idade entre 50 e 59 anos | Sim | 2 |
Idade entre 60 e 69 anos | Sim | 3 |
Idade maior que 70 anos | Sim | 4 |
Sou mulher | Sim | 1 |
Tive/tenho anemia | Sim | 1 |
Tenho pressão arterial alta | Sim | 1 |
Sou diabético | Sim | 1 |
Tive um ataque cardíaco ou derrame | Sim | 1 |
Tive/tenho insuficiência cardíaca . | Sim | 1 |
Tenho doenças circulatórias nas pernas | Sim | 1 |
Tenho proteína na urina | Sim | 1 |
Conte a pontuação para cada uma das afirmações que você respondeu com sim.
Se for maior ou igual a quatro, você possui no mínimo 20% de chances de contrair o problema, sendo assim, é interessante que procure um médico (no caso, um nefrologista) e fazer um diagnóstico completo a fim de identificar como estão as suas atividades renais, bem como os riscos de contrair a doença.
Caso a sua pontuação tenha sido de zero a três pontos, os riscos são baixos, mas mesmo assim, é importante que você faça ao menos uma revisão completa de sua saúde ao menos uma vez por ano (principalmente se estiver acima de 20 anos) a fim de conhecer como está o seu organismo tanto quanto às funções renais quanto a outros possíveis problemas de saúde.
Agora, lembre-se de duas coisas: este auto-exame deve ser uma ferramenta para melhor conhecer sua situação atual, mas ele não é válido como um diagnóstico definitivo, sendo assim procure um especialista! E a segunda coisa a lembrar é que a revisão anual deve ser levada de forma séria e portanto ninguém deveria “esquecer-se” disso. Infelizmente muitas pessoas acreditam que isso é algo inútil e por isso, quando finalmente comparecem a um médico, já estão em um estágio muito avançado, o que dificulta e muito o tratamento.
E por falar em tratamento, vamos agora a algumas orientações para a prevenção e tratamento da doença.
Prevenção e Tratamento
Algumas medidas a serem tomadas, tanto na prevenção quanto tratamento de IRC são:
- Aferição periódica da pressão sangüínea, visando diagnosticar a hipertensão arterial;
- Controle da hipertensão aterial, por meio de remédios, dieta e exercícios físicos;
- Exame periódico de glicose no sangue, visando diagnosticar a diabetes;
- Tratamento da diabetes, por meio de dieta e medicamento adequados;
- Tratamento de toda e qualquer infecção urinária tão logo os primeiros sintomas apareçam;
- Prática de exercícios físicos regulares;
- Evitar fumar;
- Combater a anemia e a obesidade.
A preocupação com a dieta alimentar deve ser uma constante. Neste caso, algumas recomendações são:
- Reduzir a ingestão de sal (o que pode levar à hipertensão arterial);
- Reduzir a ingestão de potássio;
- Se diabético, buscar uma dieta com restrição de glicose;
- O consumo de proteínas de origem animal (carne, ovos, leite e derivados) deve ser moderado. Adotar uma dieta hipoprotéica (ou seja, com baixa ingestão de proteínas) é indicada.
Nos casos mais severos de insuficiência renal crônica, o paciente pode precisar submeter-se a um dos seguintes tratamentos:
- Diálise peritoneal – um cateter é introduzido (permanentemente!) no interior de seu abdômen, por meio do qual será introduzido, periodicamente, um líquido especial a fim de absorver as toxinas e, depois, removido. Este processo pode ser feito em casa (quatro ou cinco vezes ao dia) ou em um hospital em sessões semanais (duração de 16 a 24 horas cada);
- Hemodiálise – por meio de uma artéria e uma veia do braço do paciente, seu sangue é desviado para um aparelho que, após fazer a filtragem, devolve-o à circulação. São necessárias três sessões semanais, de três a cinco horas cada;
- Transplante – neste caso, um rim em condições de efetuar suas atividades é transplantado para o órgão de um paciente. Infelizmente, o número de transplantes efetuados é muito menor do que a quantidade de pacientes na fila de espera por um novo órgão.
Bem, diante deste quadro, fica muito mais fácil perceber que “é melhor prevenir que remediar”, pois as conseqüências são muito severas e, repito, irreversíveis!
Referências Bibliográficas
ABC DA SAÚDE, Orientações para pacientes com Insuficiência Renal
ABC DA SAÚDE, Doença Renal Crônica
BOA SAÚDE – UOL, Retrato da Insuficiência Renal no Brasil
SOCIEDADE BRASILEIRA DE NEFROLOGIA, O rim e suas doenças
UNIFESP, Insuficiência Renal Crônica Terminal
Agora, não há mais desculpas para não saber do que se trata a insuficiência renal crônica. 😉